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O Luto em Enfermeiros Expostos à Morte dos Doentes: A Realidade do IPO de Coimbra Dezembro2015 INFO





















Do total dos participantes, 2/3 nunca exerceram fun- Os enfermeiros que aceitam a morte com naturalidade/
ções num serviço de Cuidados Paliativos, porém quase neutralidade, possuem estratégias de coping total au-
metade possui formação nesta área. Sobre o luto, uma mentadas com a própria morte e com a morte dos outros.
baixa percentagem afrma possuir conhecimentos neste Os enfermeiros que evidenciam “medo” e “evitamento”,
âmbito, sendo que a formação foi adquirida em congres- vivenciam uma SLP aumentada no total e dimensões,
sos ou em cursos profssionais. Todos os enfermeiros da traduzindo-se numa capacidade reduzida de coping total
amostra já prestaram cuidados pós-morte, sendo que com a morte e coping com a sua própria morte.
43,9% prestaram cuidados a doentes agónicos.
H2: Os enfermeiros que trabalham em CP possuem
Quando questionados sobre alguns aspetos da sua ex- menor SLP na dimensão “Esforço emocional no cui-
periência pessoal, a maioria refere professar uma reli- dar”, quando comparados com os enfermeiros que
gião, referindo igualmente que já sofreram a perda de exercem funções nos restantes serviços. Este achado
um familiar próximo ou alguém muito querido. No que pode-se justifcar pela flosofa inerente aos cuidados
se refere à existência de alguma doença grave, uma per- paliativos (APCP, 2006), bem como pela formação di-
centagem muito reduzida respondeu que sofreu ou sofre ferenciadora dos profssionais que trabalham em cui-
de uma doença grave. Por fm, indagaram-se os enfer- dados paliativos: “A formação (…) é consensualmente
meiros no sentido de saber se as situações anteriormen- apontada como o fator crítico no sucesso das equipas
te referidas modifcaram a sua atitude perante a morte, de cuidados paliativos” (APCP, 2006).
verifcando-se uma resposta positiva pela maioria.
H3: Enfermeiros com habilitações mais graduadas ten-
QUESTÃO DE INVESTIGAÇÃO: dem a sentir maior “confnamento atormentado”. Os
enfermeiros que trabalham no serviço de cirurgia geral
Identifcou-se a existência de uma sobrecarga de luto manifestam sobrecarga de luto profssional na dimen-
profssional acima da média na amostra em estudo, re- são “Perda nostálgica”. Existe maior sobrecarga de luto
sultado que se poderá justifcar por um lado, porque a profssional nos enfermeiros que nunca trabalharam
maioria dos enfermeiros de oncologia não possui forma- em CP e nos enfermeiros que nunca sofreram ou so-
ção adicional sobre o luto nem treino de competências frem de doença grave (para a ESLP total e na dimensão
para cuidar de doentes em fm de vida (Magalhães J, “Confnamento atormentado”).
2009; Sapeta P, 2011; Conte T, 2011; Hildebrandt L,
2012), e por outro, visto que o desempenho profssional H4: As médias mais elevadas de coping encontram-se
em oncologia é uma importante fonte de stress ocupa- presentes nos enfermeiros que possuem um maior grau
cional, que afeta intensa e negativamente o bem-estar de formação em cuidados paliativos. Os enfermeiros
pessoal do profssional de saúde (Ramirez et al,. 1996) com maiores níveis de coping são os que fzeram forma-
citado por Gama M (2013). ção na área do luto, pelo que se pode afrmar que apre-
sentam mais estratégias face ao luto, pois possuem
HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO: mais estratégias perante a morte (para “ECM total” e
para dimensão “coping com o próprio”).
H1: Verifcou-se que as variáveis sobrecarga do luto e
coping variam em sentidos opostos. Os enfermeiros que
apresentam maior difculdade em validar os sentimen- CONSIDERAÇÕES FINAIS
tos que experienciam na sequência da morte dos seus
doentes, possuem menor capacidade de coping consigo Após a realização deste estudo, foram identifcadas
próprio. Um aumento no “esforço emocional” no cuidar como mais-valias o tamanho da amostra e a utilização
signifca um menor coping total com a morte e na di- de instrumentos de medida validados para a população
mensão coping com os outros. Um maior “confnamento portuguesa. Este estudo possibilitou ainda a tradução e
atormentado” está relacionado com um menor coping adaptação da escala de coping com a morte para uma
consigo próprio. população de enfermeiros portugueses, que pelas suas




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